Luiz Bassegio destaca justiça climática e cidadania universal no I Fórum Internacional de Mudanças Climáticas e Migrações
- comunicacao4012
- 30 de out.
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Por Luciane Udovic, Grito dos Excluídos Continental
Belém do Pará, 30 de outubro de 2025 — O militante social Luiz Bassegio, do Grito dos Excluídos Continental, participou da mesa “Sociedade Civil e Proteção das Pessoas Deslocadas Climáticas” durante o I Fórum Internacional de Mudanças Climáticas e Migrações, realizado nesta quinta-feira na Faculdade Cosmopolita do Pará, em Belém.
O evento promovido pelo Grito dos Excluídos Continental e pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com diversas organizações e movimentos sociais da sociedade civil, marca um momento histórico de articulação entre povos e territórios que enfrentam os impactos da crise climática e dos deslocamentos humanos forçados.
Um testemunho de vida e resistência
Com mais de quatro décadas de trajetória junto a migrantes e refugiados, Luiz Bassegio iniciou sua fala com uma saudação calorosa às “companheiras e companheiros, irmãs e irmãos de caminhada”, recordando que Belém, “porta da Amazônia, coração pulsante da Casa Comum”, simboliza o encontro entre povos e resistências. Ele lembrou sua experiência no Serviço Pastoral dos Migrantes, na Rede Sem Fronteiras e no próprio Grito dos Excluídos Continental, reafirmando o compromisso de lutar “por um mundo onde ninguém seja estrangeiro”. Para Bassegio, a crise climática tem agora “um novo rosto — o rosto do deslocado climático — e exige respostas solidárias e justas”.
A crise climática tem rosto humano
Bassegio destacou que o aquecimento global já se manifesta de forma dramática, citando o caso recente do Rio Grande do Sul, onde “2,3 milhões de pessoas foram atingidas, 550 mil endereços destruídos e 70 mil novas moradias se tornaram necessárias”. “O clima não muda sozinho”, afirmou. “Quem muda o clima é o modelo econômico que destrói, transforma o planeta em mercadoria e o ser humano em descartável.” Essa crítica sintetiza o eixo político e ético da fala, conectando mudanças climáticas e desigualdade social como expressões de um mesmo sistema de exploração.
Dois modelos em disputa: lucro ou vida
O militante apontou que o mundo vive uma encruzilhada histórica entre dois projetos civilizatórios: de um lado, o mundo unipolar, guiado pelo lucro e pela concentração de poder; de outro, o mundo multipolar, que aposta na cooperação e no respeito à diversidade. Para ele, “a luta climática e migratória fazem parte da mesma disputa civilizatória: de um lado, o projeto da morte e do muro; de outro, o projeto da vida, da partilha e da Casa Comum”.
Migração como espelho das desigualdades
Ao tratar da mobilidade humana, o militante lembrou que ninguém migra por vontade, mas por necessidade. “Enquanto 1% da população detém quase metade da riqueza do planeta, multidões caminham em busca de vida digna”, alertou. Defendeu que o migrante não deve ser visto como ameaça, mas como símbolo de resistência e esperança, e propôs a Cidadania Universal como paradigma ético e político: “todo ser humano tem direito a todos os direitos, onde quer que esteja, simplesmente por ser pessoa humana”.
Ecologia integral e Casa Comum
Inspirado na encíclica Laudato Si’, de Papa Francisco, Bassegio articulou a dimensão espiritual e ética da luta socioambiental. “O grito da Terra e o grito dos pobres são o mesmo grito”, afirmou, propondo uma conversão de olhares — “do individualismo à solidariedade, do consumismo à simplicidade, da exploração à fraternidade planetária.” Belém, disse ele, representa essa interligação, “onde a Casa Comum tem rosto indígena, ribeirinho, negro e migrante.”
Sociedade civil como força de proteção e esperança
Encerrando sua fala, Luiz Bassegio ressaltou que a proteção das pessoas deslocadas não virá apenas dos governos, mas da capacidade das redes e movimentos populares de tecer solidariedade, acolher e propor. “O maior desafio é defender a Casa Comum e a democracia”, afirmou, alertando que a crise climática é também uma crise política. Reafirmou a urgência de uma transição ecológica justa e solidária, que garanta terra, trabalho, moradia e cidadania — temas centrais também no Manifesto de Belém.
“A humanidade só será salva quando aprender a caminhar junta”
Em tom de mística e esperança, Bassegio encerrou sua fala citando Paulo Freire — “ninguém se liberta sozinho, homens e mulheres se libertam em comunhão” — e reafirmando que “a migração, quando vivida na solidariedade, revela a esperança”. “Este Fórum é parte dessa esperança — o grito que atravessa fronteiras e anuncia que outro mundo é possível e necessário”, concluiu.
O legado do Fórum e o papel do Grito dos Excluídos Continental
A fala de Luiz Bassegio sintetizou o papel histórico do Grito dos Excluídos Continental, que há mais de 25 anos articula mobilizações populares por justiça social, climática e econômica em toda a América Latina. Durante o Fórum, a organização contribuiu ativamente para a redação e aprovação do Manifesto de Belém, reafirmando seu compromisso com a defesa dos povos em movimento, a ecologia integral e a reconstrução democrática da Casa Comum.
A intervenção de Luiz Bassegio não foi apenas uma análise política, mas um ato de fé na humanidade e na força transformadora dos povos organizados. Sua fala, enraizada em décadas de militância e espiritualidade libertadora, ecoou como um chamado coletivo: “Reconstruir a Casa Comum é tarefa de todas e todos — para que ninguém mais precise deixar sua terra por falta de pão, por falta de paz ou por falta de clima.”







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