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28º Grito dos Excluídos e Excluídas

‘Vida em primeiro lugar!’ “Brasil, 200 anos de (in)dependência. Para quem?”

Por Luiz Bassegio e Luciane Udovic*


Grito incômodo, mas que não deve ser por ninguém silenciado, pois se os excluídos e excluídas calarem “as pedras gritarão!” O povo grita não apenas por pão, mas por dignidade. Grita não apenas por distribuição de renda, mas por justiça social; justiça que segue negada nestes quinhentos e tantos anos de invasão dos colonizadores europeus. Por isso perguntamos: Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para quem, se este país é povoado por milhões de famílias sem teto e sem terra? Para quem, se apesar de tanta produção falta comida no prato do trabalhador, da trabalhadora e seus filhos?”





É importante que nos perguntemos por que em 1995 surgiu o Grito dos Excluídos. Após a Campanha da Fraternidade, do mesmo ano, que tratou do tema “Fraternidade e os Excluídos”, numa reunião das Pastorais Sociais da CNBB, em Brasília, nos perguntávamos como continuar articulando pastorais, movimentos sociais e sindicais, diante de tanta exclusão social. Com esta reflexão em mente foi que, numa reunião na Cáritas Nacional, decidiu-se: “vamos fazer o Grito dos Excluídos”. Nasce entãoa proposta de realizar atos simultâneos e simbólicos em todo Brasil, no dia Sete de setembro. Dia da suposta (inde)pendência do Brasil. Independência que nunca existiu. Na verdade, as formas de dependência e a natureza das relações de poder impostas pelas economias dominantes, por meio de incursões imperialistas, são as chaves para a compreensão dos processos político-econômicos de dependência - não só do Brasil como também em toda a América Latina e Caribe. Por isso, em 1999, nasce o Grito dos Excluídos/as Continental. Na América Latina e no Caribe, o Grito acontece em 12 de outubro por entender que a América não foi descoberta e sim, invadida. Recorda as dores da conquista e a dignidade da resistência dos povos por Trabalho, Justiça e Vida.


No Brasil, o Grito surge também para se somar a luta das categorias profissionais mais organizadas - metalúrgicos, bancários, professores – que já se organizavam em sindicatos e centrais. Mas tambéme sobretudo, para dar voz e vez àqueles e àquelas categorias invisíveis, como as populações em situação de rua, os migrantes, refugiados, os sem terra, os sem teto, os negros, índios, domésticas, trabalhadores tercerizados, enfim, toda a população excluída da tal independência do Brasil. O Grito surgiu com o intuito de dar protagonismo aos excluídos/as.


Sendo assim, as manifestações do Grito privilegiam a metodologia da mística, da simbologia, da arte, da manifestação expontânea dos excluídos/as. E não dos grandes discursos, das grandes ponências, dos grandes públicos. Neste momento do Grito, quem deve manifestar suas dores, sonhos, experiências e propostas, são os excluidos/as. E do seu seu jeito, com sua criatividade e sua cultura: por meio do canto, da dança, do choro, do desenho, da rebeldia.


É muito comum em manifestações do Grito a presença de autoridades, de parlamentares, políticos. Mas somente como ouvintes e comprometidos com a causa dos excluídos/as.

Para 2022, 200 anos de (in)dependencia, nos cabe a pergunta: que independência é esta que não faz reforma agrária, que permite aos bancos cobrar juros absurdos, que favorece o agronegócio em detrimento da agricultura familiar? Que independência é esta, em que mais de 30 milhões de pessoas passam fome? Na qual mais de 600 mil mortes evitáveis foram registradas por causa de uma política negacionista? Independência pra quem, quando se aprova um orçamento secreto de “beneficios sociais” para fins políticos eleitorais? Que independência é esta onde a Emenda Constitucional 95 permite congelar investimentos com políticas públicas por 20 anos, desmontando todo o sistema de proteção social para o nosso povo? Onde quem ganha salário mínimo paga o mesmo percentual de impostos como quem ganha mais de cem salários? Quando uma classe política legitima suas regalias e privilégios a seu bel prazer, legislando em causa própria? Isto não é independência. Isso é barbárie, ou seja, é uma situação onde a elite política ignora as leis previstas pela Constituição Federal de 1988 e agem por conta própria.


Precisamos de reforma agrária, apoio à agricultura familiar, apoio e incentivo à educação, reforma tributária justa e progressiva, programa de moradia popular, salário mínimo que atenda as necessidades das famílias, um SUS e SUAS fortes e com um projeto de seguridade universal que garanta Proteção Social. Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento democrático, com justiça social e ambiental. Precisamos de um mutirão pela Vida por Terra, Teto e Trabalho que concretize o Brasil que queremos construir: o bem viver dos povos”


Luiz Bassegio e Luciane Udovic, da coordenação do Grito dos Excluídos/as Continental e da 6ª Semana Social Brasileira.


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