top of page

Vozes do Sul pela Casa Comum: o Clamor da Pré-COP da CNBB

  • comunicacao4012
  • 23 de jul.
  • 3 min de leitura

Luiz Bassegio


"Não cause danos à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado com o selo a fronte dos servos do nosso Deus." (Ap 7,3) Entre os dias 18 e 20 de julho, o município de Governador Celso Ramos, em Santa Catarina, foi palco da Pré-COP do Regional Sul da CNBB. O encontro reuniu 120 participantes vindos de dez dioceses dos regionais Sul 2 (PR), Sul 3 (RS) e Sul 4 (SC), num esforço coletivo para contribuir com propostas concretas à COP30 — Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorrerá em Belém (PA) em 2025. O evento faz parte de um ciclo nacional de cinco Pré-COPs, organizadas pela Igreja Católica no Brasil, com o objetivo de escutar os territórios, fortalecer a ação profética das comunidades e mobilizar em favor da justiça socioambiental. O grito da terra e o clamor dos pobres Inspirada na Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, a Pré-COP reafirmou a urgência de responder ao grito da terra e ao clamor dos pobres. “Não estamos agindo o suficiente. Estamos próximos do ponto de ruptura”, alertou o Papa em seu chamado global por uma conversão ecológica. A fala ecoa também a advertência do Papa Leão XIV, que já afirmava a justiça ambiental como uma necessidade urgente. Durante os debates, os participantes denunciaram problemas graves que afetam o meio ambiente: o agravamento do efeito estufa, o desmatamento, as queimadas, o uso abusivo de agrotóxicos, a poluição das águas e a cultura do descarte. Dados preocupantes foram destacados: cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água potável e somente a região Sul consome 23% dos agrotóxicos utilizados em todo o país. O drama das enchentes no Rio Grande do Sul foi amplamente abordado. Mais de 95% do território gaúcho foi afetado, com 2 milhões de atingidos e 15 mil pessoas forçadas a migrar. Dois biomas da região estão gravemente ameaçados: o Pampa, que sofre com monocultura, desmatamento e espécies invasoras, e a Mata Atlântica, alvo de mineração, agrotóxicos, queimadas e especulação imobiliária. Capitalismo, alternativas e a cultura do bem viver Em um dos momentos intensos do encontro, surgiu um debate instigante sobre os caminhos possíveis diante da crise ambiental e social. Foi levantada a ideia de que seria necessário “humanizar o capitalismo” como alternativa viável no atual contexto. A resposta veio de forma crítica e contundente, questionando se é realmente possível dar um rosto humano a um sistema historicamente excludente e predatório. A provocação gerou forte repercussão e aplausos espontâneos, demonstrando a sede de reflexão e o desejo coletivo de construir novos paradigmas, fundamentados na justiça, no bem viver e na harmonia com a Casa Comum. A proposta que emergiu com força foi a de uma mudança de paradigma: adotar a cultura do bem viver, respeitando os limites da natureza e valorizando modos de vida sustentáveis. Isso significa reduzir o consumo excessivo e recuperar valores ancestrais, como os praticados pelos povos indígenas, que ocupam apenas 0,7% do território da região Sul, mas preservam seus territórios em harmonia com a natureza. Caminhos e propostas rumo à COP30 Como fruto do encontro, foram apontadas propostas concretas para fortalecer o compromisso com a Casa Comum:

• Defender os biomas e ecossistemas;

• Apoiar a reforma agrária e a justa distribuição da terra;

• Garantir os direitos dos povos originários;

• Fortalecer a organização popular das populações impactadas pelos desastres e pelo modelo predatório de desenvolvimento.


Também foi destacada a importância de participar ativamente da COP30 em Belém, como expressão da fé comprometida com a vida. Após o evento, será fundamental organizar um processo de devolutiva, levando os resultados às comunidades e cobrando das autoridades a implementação das propostas acordadas. Alerta vermelho: retrocessos na política ambiental Em sintonia com o momento, os participantes repudiaram a aprovação do Projeto de Lei 2159/21 pela Câmara dos Deputados, no último dia 17 de julho. Em nota, a CNBB alertou: “A nova redação, ainda mais frágil que a aprovada no Senado, desestrutura princípios consolidados de proteção ambiental, enfraquece o licenciamento, fragiliza o controle público e ameaça os territórios, as águas, as florestas e a vida.” A Pré-COP Sul deixou claro: é tempo de mobilização, cuidado e coragem. A Igreja no Sul do Brasil segue em marcha com os povos, escutando os clamores da terra e da humanidade ferida, anunciando que outro mundo — mais justo e sustentável — é urgente e possível.


Luiz Bassegio, da coordenação do Grito dos Excluídos Continental

e das Pastorais Sociais – Santa Cruz do Sul/CNBB Sul 3

Regionais Sul 2, Sul 3 e Sul 4
Regionais Sul 2, Sul 3 e Sul 4
Regional Sul 3 – Rio Grande do Sul
Regional Sul 3 – Rio Grande do Sul

 
 
 

Comentários


bottom of page